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  • Foto do escritorInstituto de Formação de Líderes Jovem São Paulo

De famílias ricas a empreendedores sem capital: a revolução das fintechs


Nos últimos 13 anos, o mundo passou a vivenciar uma revolução na oferta de produtos e serviços financeiros. Durante décadas, o setor financeiro ficou concentrado na mão de poucos — tanto na oferta quanto na demanda. Ao retornarmos para o século XIV, encontramos o fornecimento de empréstimos sendo conduzido por famílias muito ricas da Europa. A palavra “banco”, de origem italiana, representava o lugar onde os banqueiros se sentavam para fazer negócios. Quando as cidades-estado, na península italiana, passaram a usufruir da influência do papado em Roma, neste período, houve uma expansão notável no acúmulo de riqueza. Veneza, com o poder marítimo, e Florença, com a atividade fabril, foram símbolos da composição bancária para a época [1].


Famílias de banqueiros conhecidos, à época, como Peruzzi, Bardi e Médici, foram responsáveis por financiar e garantir as viagens e o comércio que impulsionaram o desenvolvimento do mundo [1]. Em si, a formação de um banco representava uma imensa transformação na maneira como confiamos e permitimos que inventos sejam criados, justamente porque refletiam três conceitos básicos da economia:

  1. era caro um indivíduo elaborar um só contrato de empréstimo, com o banco era possível redigir milhares de contratos, o que reduziu o custo e resultou em uma economia de escala;

  2. espalhando os empréstimos geograficamente, os bancos da época reduziram o risco de crédito ruim, o que representou uma diversificação de risco;

  3. na época, os comerciantes queriam guardar seu dinheiro, outros desejavam pedir dinheiro emprestado, desta forma, os bancos passaram a “tomar empréstimos no curto prazo, fazer empréstimos no longo prazo”, o que beneficiou a todos e fez com que os bancos usassem o dinheiro dos depósitos como dinheiro emprestado (alavancagem) para multiplicar lucros e ter um alto retorno sobre o capital investido dos proprietários — através dos juros, por exemplo.

O fato de termos bancos reunidos em uma região — à exemplo, Faria Lima e Wall Street —, também remete-se a esse tempo, uma vez que o agrupamento permitia um compartilhamento de habilidades e informação, resultando em uma redução de assimetrias de informação — sobre os devedores, por exemplo [1]. Desta forma, aos poucos, o sistema financeiro que conhecemos foi se formando, através de pessoas que confiaram umas nas outras, tivemos avanços tecnológicos, perpetuação e expansão da riqueza, e mobilidade social. Hoje, após a Tecnologia da Informação e a globalização, podemos comercializar com qualquer região do mundo. Não à toa, os bancos não ficam mais concentrados em uma única região, mas, sim, espalhados por Xangai, Nova Iorque, Tóquio, Hong Kong etc…


Os avanços recentes da tecnologia, permitiram uma notável redução dos custos para se abrir e operar um banco, assim como resultaram em uma melhora significativa na experiência dos clientes. Na primeira lição do livro As seis lições, de Ludwig von Mises, o autor dissecou este pensamento [5]. Com o capítulo intitulado de O capitalismo, Mises diz que a livre concorrência permite que se faça melhor, entregue produtos melhores e de maneiras novas a aqueles que de fato mandam no jogo das trocas: os consumidores. De acordo com o autor, o capitalismo e seu consequente desenvolvimento estão alicerçados na capacidade de cada indivíduo de servir melhor e mais barato o seu cliente, através da diferenciação, eficiência e, por conseguinte, da melhoria dos padrões de vida [5].


Assim aconteceu com os neobanks — ou fintechs. Com o movimento de fintechs emergido no mundo após a crise do subprime em 2008, essas empresas se destacaram em relação aos bancos tradicionais através da oferta diferenciada de produtos e serviços financeiros. Em um relatório publicado pela Capgemini [3], a empresa de consultoria argumentou que o modelo de fintech possui 3 fases: na primeira fase, elas fortalecem sua principal linha de produtos ou aplicam provas de conceitos; dentro de 2 a 5 anos, na segunda fase, elas começam a converter compradores de preços por compradores de valor por meio da personalização, experiência e diferenciação; em 5 anos, elas começam a se posicionar como principais provedores de serviços aos seus clientes, evangelizando-os à marca [3]. Assim, surgem nomes como Nubank, Inter, Stone, C6 Bank, entre outros, que se diferenciam na entrega e fazem frente aos principais bancos do país.


Essas empresas também representam uma grande aposta no futuro, por parte de seus investidores. Os capitalistas de risco (venture capitalists) apostam naquilo que costumamos chamar em contabilidade de fluxo de caixa descontado. Essas empresas podem não dar lucro agora, mas no futuro, espera-se que pelo mercado e oportunidade que estão situadas elas prosperem. O nicho do capital de risco existe devido à estrutura e às regras dos mercados de capitais. Alguém com uma ideia ou uma nova tecnologia geralmente não tem outra instituição a quem recorrer [2].


Com os riscos inerentes às startups geralmente esses empreendedores ficariam sujeitos a taxas mais altas do que as permitidas por lei. Assim, os banqueiros só financiarão um novo negócio na medida em que existam ativos tangíveis contra os quais garantir a dívida. Tendo em vista que muitas startups têm poucos ativos tangíveis, não há a possibilidade de haver um empréstimo concedido por bancos [2].


Neste sentido, hoje vemos grandes fundos de venture capital, como Astella Investimentos, Softbank, Sequoia Capital, entre outros, investindo em empresas com base tecnológica e modelo escalável e repetível — startups. Na quinta lição do livro de Ludwig von Mises [5], o autor elaborou uma boa narrativa sobre isso. O investimento externo, que leva o título do capítulo, talvez seja o que melhor represente os avanços do sistema capitalista nos últimos anos [5].


Foi a cooperação unida com os interesses e liberdade de seus participantes, que elevaram nosso padrão de vida. Uma nação investir na outra, proporcionou avanços significativos em nosso desenvolvimento econômico — e proporciona até os dias atuais. Sem dinheiro estrangeiro, não teríamos muito dos inventos que temos hoje — e com certeza não teríamos os bancos digitais que muitos de nós utilizamos. Mises, destacou isso em sua obra:

“ é imprescindível que haja liberdade para empregá-lo sob a disciplina do mercado, não sob a do governo. É preciso que estas nações acumulem capital interno e viabilizem o ingresso do capital estrangeiro.”

O investimento externo — e uma notável alteração na regulação, tornando a inovação possível —, permitiu que houvesse um crescimento em investimentos em países que até então eram considerados o “celeiro do mundo”. A China, por exemplo, viu a produção de 11 unicórnios (empresas que valem igual ou mais que US$ 1 bi) no segmento de fintechs; a Índia, viu o surgimento de 9 unicórnios; e o Brasil — após um redesenho completo na regulação bancária, a partir de 2017 —, viu a produção de 7 unicórnios no ramo de fintechs [4].



Os avanços recentes no setor financeiro e sua consequente mudança na oferta e elaboração dos produtos e serviços financeiros, permitiram que mais pessoas acessassem o Sistema Financeiro Nacional — ao reduzir o custo por meio da tecnologia, por exemplo. O avanço do capitalismo e a propagação dos investimentos externos, fizeram com que nós mudássemos, por completo, a maneira como nos relacionamos com nossas finanças. A inovação, em conjunto com as nossas liberdades, permitiu que vivenciássemos uma democratização tanto na oferta de produtos financeiros — com as fintechs utilizando plataformas de Banking as a Service, que possibilitam a redução do tempo de desenvolvimento de seus produtos —, como também no acesso a eles por parte dos clientes. Saímos de famílias ricas — que ofereciam empréstimos a partir de suas riquezas — para empreendedores de primeira viagem — que não possuem capital próprio e recorrem a terceiros para financiamento dos seus negócios. Os efeitos da liberdade na vida das pessoas, também constituem a revolução das fintechs.


Walter Pereira

Qualify — IFL Jovem SP

Referências:

[1] Da história do crédito: da Mesopotâmia aos Médici e a expansão do modelo de negócio bancário: http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/revistajuridica/article/download/1077/1019/

[2] How Venture Capital Works: https://hbr.org/1998/11/how-venture-capital-works

[3] Relatório Capgemini:https://fintechworldreport.com/

[4] The Fintech Unicorn Hubs of 2021: Where Do the Largest Fintechs Hail From? https://blog.cfte.education/the-fintech-unicorn-hubs-of-2021-where-do-the-largest-fintechs-hail-from

[5] As seis lições — Ludwig von Mises — 7a edição

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